.

Wilma e Agripino travam primeiro round da disputa eleitoral de 2010



As eleições deste ano no Rio Grande reúnem todos os ingredientes para ser daquelas disputas animadas – não por causa da paixão dos eleitores, mas pela intensa troca de acusações entre os candidatos. A ex-governadora Wilma de Faria (PSB) e o senador José Agripino Maia (DEM), ambos postulantes a uma das duas vagas em jogo no Senado, travaram nesta última semana o primeiro round desta luta que está apenas começando.

Já de início, pode-se perceber que ninguém vai economizar na artilharia contra o adversário/inimigo. A principal batalha, pelo que andaram dizendo os candidatos, deve ser no campo da ética. Com a proximidade das eleições, todos querem se mostrar imaculados aos distintos eleitores.

Wilma tomou a iniciativa e desferiu o primeiro golpe contra Agripino. Na quinta-feira passada, dia 15, a ex-governadora chamou o senador para a briga. Dizendo que não aceitaria “linchamento moral”, Wilma insinuou que Agripino não tem autoridade para falar em ética.

“Quem é ele para falar de ficha limpa e de mãos limpas? A minha ficha é mais limpa do que a dele", declarou, em tom de ataque, durante almoço com jornalistas num restaurante de Ponta Negra.

Wilma esperava levar o democrata à lona, mas o senador não se deixou intimidar. O contra-ataque veio no dia seguinte, em forma de provocação. Com o dedo em riste, sobrancelhas alteadas e voz demonstrando irritação, Agripino defendeu-se das insinuações da adversária, exibiu certidões judiciais que comprovariam sua probidade e desafiou sua acusadora a fazer o mesmo.

“A minha ficha está aqui. As certidões negativas de que contra José Agripino Maia não corre nenhum processo em nenhum tribunal. Então cabe aos outros, se tiverem coisa semelhante, exibirem”, disse, enquanto manuseava uma pasta com três declarações emitidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Em seguida, negou que tivesse partido para o “linchamento moral” contra Wilma, sustentando que a socialista havia vestido a carapuça sem motivo.

Tréplica

A ex-governadora aceitou o desafio do democrata, desfechou novos golpes e relembrou sua condição de “mulher independente” para dizer que é alvo da “prepotência e intolerância” dos seus algozes.

Wilma orientou seus advogados a pedirem os documentos que comprovariam que, contra sua pessoa, não pesa nenhuma condenação judicial. Neste ponto, é preciso atentar para um pequeno detalhe semântico. Ao dizer que não há contra si nenhuma “condenação judicial”, a ex-governadora parece defender-se antecipadamente de possíveis constrangimentos caso venha à tona algum processo envolvendo seu nome.

A peessebista não parou por aí. Em novo movimento contra o adversário, Wilma disse que só mostrar “folhas de papel” não adianta e botou o dedo numa outra questão polêmica ao questionar a origem do enriquecimento dos seus opositores.

“Eles precisam informar o que acumularam de bens, empresas e mega-estruturas vivendo só na política há décadas. Dizer como isto foi possível”, declarou, lançando mais uma pecha sobre a “pureza moral” dos adversários.

Dossiês

Agripino, por enquanto, não se pronunciou sobre as novas declarações de Wilma. Na última entrevista, o senador disse que iria se ocupar somente da sua vida e de se apresentar com “a ficha e as mãos limpas” ao eleitor.

Nos bastidores, porém, a conversa é outra. A ordem é partir para a ofensiva, ainda que para isso seja necessário recorrer a expedientes, digamos, pouco ortodoxos. Longe das câmeras de TV e dos gravadores dos repórteres, os dois lados se armam até os dentes para a guerra.

Para não serem acusados de promoverem a baixaria, os candidatos delegaram aos respectivos assessores a tarefa de preparar e disseminar dossiês apócrifos contra os adversários.

O banking de Wilma promete ressuscitar casos escabrosos do passado político de Agripino para mostrar que, ao contrário do que propaga, a ficha do senador é bastante comprometida. Na lista estão episódios como o escândalo do “rabo-de-palha” (compra de votos nas eleições de 1985 para prefeito de Natal), a fraude do “Ganhe Já” (programa que consistia na troca de notas fiscais por cupons que davam ao cidadão o direito de concorrer a prêmios, suspeito de funcionar como sangradouro de dinheiro para financiar a extinta Dumbo Publicidade) e a entrada para a vida pública pelos braços da ditadura militar (Agripino foi nomeado prefeito biônico de Natal na década de 80).

A munição que a turma de Agripino levanta contra Wilma também não é nada desprezível. O escândalo do “foliaduto” (contratação de shows “fantasmas” pela Fundação José Augusto), a operação “Hígia” (esquema de tráfico de influência desmontado pela Polícia Federal envolvendo o filho da ex-governadora, Lauro Maia) e a operação “Ouro Negro” (esquema de fraude fiscal, envolvendo desvio, adulteração e revenda de combustíveis no Rio Grande do Norte, em que a própria Wilma de Faria é citada como beneficiária) são os casos com o comando democrata pretende emparedar a socialista.

Pelo que se anuncia, vem muita trovoada por aí. Ao eleitor caberá o solitário papel de espectador neste espetáculo grotesco da pequena política.

Alisson Almeida
Nominuto.com