Aos olhos de diplomatas brasileiros, o maior - e mais improvável - afago à atuação do País no Irã veio do jornal britânico Financial Times. Em editorial, o prestigiado diário liberal defendeu que o acordo nuclear turco-brasileiro com Teerã, independentemente de seu resultado, prova que o Brasil tornou-se uma "ponte" entre o Ocidente e "os emergentes". A Turquia, do outro lado, serviu de elo entre os ocidentais e "o mundo islâmico".
O diagnóstico do jornal foi uma boa notícia para o Itamaraty. Entrar na seara iraniana, acreditam os diplomatas, é apenas mais uma maneira de reafirmar que o Brasil de hoje é um ator global pleno, cuja influência pode determinar rumos em todo o mundo. Críticos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porém, definem esse raciocínio com uma palavra: megalomania.
No diálogo da semana passada com o Irã, a diplomacia brasileira fez questão de exaltar sua condição de potência emergente - "aliada ao Ocidente, mas com uma agenda semiautônoma", segundo a definição do Financial Times. Pelo discurso oficial em Teerã, teria sido essa qualidade socioeconômica - e agora política - a chave para "arrancar" um acordo do governo iraniano.
"Foi uma negociação respeitosa entre países em desenvolvimento, que compreendem os problemas uns dos outros", disse, satisfeito, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, momentos após a assinatura do acordo, na segunda-feira.
O chanceler alfinetou o grupo formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha e França) e a Alemanha, que falam "exclusivamente a linguagem da pressão". Por isso, teriam sido incapazes de emplacar o acordo de troca de urânio por material nuclear, proposto em outubro pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
No Jornal Estado de São Paulo