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PR deixa a base aliada do governo

Por Gabriel Castro da REVISTA VEJA

Como já havia anunciado, o presidente do PR, ex-ministro e senador Alfredo Nascimento (MG) anunciou oficialmente o desligamento do partido do bloco de apoio ao governo. A legenda, agora, torna-se independente, já que também não se aliará à oposição. "Não faremos o jogo político rasteiro da revanche ou da vingança, do constrangimento ou da chantagem. Entretanto, não renunciaremos à crítica proveitosa e ao embate sereno e elevado na defesa das posições e bandeiras do nosso partido", afirmou o parlamentar.

Ele não escondeu que a demissão de mais de vinte integrantes do partido na cúpula dos Transportes após
reportagem de VEJA criou ressentimentos: "Não é aceitável que sejamos tratados como aliados de pouca categoria, fisiológicos e oportunistas sem compromisso nem história em comum com o governo que aí está e que ajudamos a construir". O senador confirmou que o partido entregará os cargos que ainda possui no governo.
Resta, agora, observar o comportamento do PR para descobrir a real dimensão do afastamento. Já nesta terça-feira, antes mesmo do discurso de Alfredo Nascimento, a legenda votou com a oposição em uma emenda ao projeto que trata do mercado de TV por assinatura.

Cargos -
Curiosamente, os principais caciques do PR - inclusive o presidente Nascimento - dizem não saber quantos e quais posto o partido irá devolver com a mudança de postura. Certo é que, depois da "faxina" nos Transportes, não sobrou quase ninguém indicado pela legenda. "Uns três", avalia o senador Clésio Andrade (MG).

O ministro dos Transportes, Paulo Passos, vai continuar no cargo e não precisará deixar o PR. Mas o partido deixou claro ao governo que a nomeação dele foi de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff.  "Não reconhecemos no atual titular do Ministério dos Transportes o legítimo representante de nosso partido no governo federal", disse o ex-ministro.


A decisão de romper com o governo foi tomada nos últimos dias. O partido já
havia anunciado a saída do bloco que formava com o PT no Senado, mas agora deixou também a coalizção de apoio ao governo. O único a resistir à mudança de rumos foi Magno Malta (ES), líder do partido no Senado. Ele achava que o rompimento definitivo era uma atitude extremada. Foi vencido pela maioria.

Sinal amarelo -
O PR tem 41 deputados e seis senadores. A saída do partido do bloco governista não ameaça a maioria do bloco aliado nas duas casas. Mas o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), diz que vai ter mais trabalho para garantir a vitória do governo nas votações. E não acha que o anúncio de Nascimento seja jogo de cena: "Eles estão mesmos dispostos a atuar de forma independente. Temos que trabalhar para obter os votos do PR".

Jucá, que esteve nesta terça-feira com a presidente Dilma Rousseff em um encontro com lideranças do PMDB e do PT, diz que "faltou política" no trato do Executivo com o Congresso até agora. Ele afirma que a Dilma está ciente da insatisfação de aliados no Congresso - inclusive dentro do próprio PMDB.