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A tradição do vaqueiro, também é vaquejada

Por e-mail, Sérgio Enilton

Foto: Eduardo Silva

Nascida da apartação, a vaquejada é tradição do vaqueiro. É uma das tradições mais cantadas em prosa e verso pelos cantadores, emboladores, cordelistas, cronistas e violeiros em todo o Nordeste brasileiro. É uma festa popular de tradição, fidelidade e apego ao passado. Qual o nordestino que não é um apaixonado pela emocionante prática da vaquejada?
Muitas vaquejadas, muitas apartações vêm dos nossos primitivos tempos, espalhadas por Nordeste. É uma recordação dos nossos antepassados, como uma lembrança viva dos nossos ascendentes, é uma testemunha eloqüente das belezas antigas, tudo aquilo que foi bom e passou. Passou deixando vestígios e estamos revivendo no Parque de Vaquejada João & Edite, uma louvável iniciativa de Iranilson Medeiros e João Berto , ao reviver as vaquejadas como se não tivesse passado.
Na lida de arrebanhar o gado para os currais continua pelo mesmo costume de antigamente, ou seja,  como nos recuados tempos da apartação. Claro que em menor proporção, pois o rebanho bovino diminuiu sensivelmente. Os vastos campos de criação de gado foram substituídos pela agricultura, e as velhas e tradicionais fazendas foram pouco a pouco desaparecendo.
Em outros tempos já distantes e encobertos pelas cinzas do passado, era grande o número de vaqueiros e derrubadores famosos, experientes e corajosos na Ribeira do Acauã. Existiram, igualmente, centenas de cavalos de fama, afeitos à luta. Os afamados derrubadores foram desaparecendo, foram tombando. Aqui e acolá, encontra-se um vaqueiro da velha guarda. No município de Acari surgiram alguns pátios ou parques de vaquejada nas localidades rurais. Ainda passa pela memória de todos as tradicionais vaquejadas no Parque Severino Odorico, no pátio da Fazenda Cabeço Branco de Antonio Pires, da Fazenda Rajada, da Fazenda Várzea em Antonio de Abílio etc.
Está marcado o dia da vaquejada, dias antes toda vaqueirama se reúne para arrebanhar o gado da fazenda ou de outras localidades rurais que irão à cidade onde vai ser realizada a vaquejada. O gado separado e selecionado é tangido para os currais através de vaquejadores. Quando surge de repente uma rês mais arisca que espirra de mato a dentro, os vaqueiros mais bem montados, corajosos e afoitos, correm atrás do animal. Com absoluta destreza e confiança no seu cavalo, o vaqueiro sai em perseguição à rés, desviando-se das árvores, saltando macambira e xiquexique, batendo aqui e ali em galhos de juremas, faveleiras, marmeleiros e mofumbos atravessados na passagem, subindo ou descendo ariscos, penetrando em caatingas de matos espinhosos, resvalando sobre pedras, até chegar o momento oportuno de encontrar um local mais aberto.
Quando a vaquejada se realiza em uma determinada cidade do interior, geralmente no período da festa do padroeiro ou padroeira local. Deduzidas as despesas com pista de corrida, arquibancada, bar, etc., o saldo será  entregue aos competidores como premiação e cobertura de diversas despesas.
Nos dias atuais, a vaquejada é previamente programada, contando com diversas comissões. A comissão julgadora e a mais importante e tem uma espécie de regimento. E, no habitual, composta de homens conhecedores e já veteranos na difícil arte de derrubar gado, profundos sabedores de todas as artimanhas, de todas as astúcias do hábil derrubador.
Hoje no Parque João & Edite os amantes da vaquejada estão valorizados e homenageados. Os tradicionais vaqueiros sem trégua usam sob sua cabeça um boné ou chapéu de couro; fez-se forte, esperto, resignado e prático. É prego batido e ponta virada na cerca dos currais, é cantoria e aboio, é velocidade e coragem, habilidade destemida. O fole ronca e o triângulo e pandeiro dão os primeiros sinais que o forró da vaquejada permanecerá vivo ecoando nas cordilheiras do Acari.