Logo após a morte da britânica Amy Winehouse, em 23 de julho passado, teorias sobre as causas do óbito começaram a aparecer. Além da tese óbvia de uma overdose de drogas, havia a possibilidade, levantada pela família, de a cantora ter morrido por abstinência de álcool – ela teria decidido cortar a bebida radicalmente e não aos poucos, como recomendara um médico. A tese ganhou força nesta terça-feira, quando o porta-voz da família, Chris Goodman, divulgou os resultados do exame toxicológico feito no sangue e no tecido da cantora. Segundo o comunicado, não foram encontrados vestígios de droga no organismo de Amy, apenas álcool em quantidade insuficiente para causar a morte, que permanece inexplicada. De acordo com o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, é raro, mas a abstinência pode matar.
“Durante a abstinência, a pressão pode aumentar, a pessoa pode ter taquicardia, tremores, ficar ansiosa, suar frio”, diz Andrade. “O grau máximo da abstinência é chamado de delirium tremens, em que o paciente passa a ter crises convulsivas.” O Delirium tremens pode ocorrer quando uma pessoa interrompe o consumo de álcool depois de beber por muito tempo. A falta de alimentação também pode agravar a situação. Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, é mais comum em pessoas que tomam entre 4 e 5 doses de vinho ou até oito doses de cerveja por dia - durante vários meses. De acordo com Ana Cecília Marques, da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas, em torno de 5% dos pacientes podem desenvolver essa síndrome de abstinência grave.
Entre os sintomas, os pacientes podem sentir medo, sofrer alucinações, convulsões, dores no peito, febre e vômito. Em geral, esses sinais aparecem a partir de 72 horas após a retirada total do álcool do organismo. Estudos sugerem, porém, que eles podem ocorrer entre 7 e 10 dias após a última dose ingerida. Depois desse período, os sintomas pioraram progressivamente. “Quando essas pessoas param de beber, acontece um ‘caos químico’ no sistema nervoso central. Além de alucinações e convulsões, o paciente também apresenta alterações no sistema cardiovascular e no sistema respiratório”, diz Ana Cecília Marques. “Antes, o cérebro do paciente havia desenvolvido uma tolerância ao álcool. Sem ele, tudo deixa de funcionar como deveria. A pessoa pode morrer por falência.”